sábado, 17 de janeiro de 2015

#34 - ADAGIO CANTABILE, Carlos Queirós

O cego deu à manivela
Da velha e triste pianola
Que era a alegria da vila:
Mas já ninguém vem à janela...
-- Pois vindo davam-lhe esmola
E ocultos podem ouvi-la.

domingo, 11 de janeiro de 2015

#33 - CANTIGA DE MANA ZEFA, Rui Burity da Silva

Ainda me lembro dela
          matrona forte desengonçada
tinha sempre uma oração nos olhos
          uma canção nos lábios grossos

          dorme menino dorme
     oh! oh! oh! oh! oh!
          cazumbi não está a vir
     mana Zefa tá lh'olhar

          tinha ciúme do menino
     de quem mana Zefa falava com paixão
          um dia perguntei com ansiedade
     se o menino seria assim como eu

mana Zefa olhou-me tristemente
     e com lágrimas na voz cantou
          -- não fala assim meu menino 
               Deus não faz filho mulato

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

#32 - "Todo o poeta quando preso", José Craveirinha

Todo o poeta quando preso
é um refugiado livre no universo
de cada coração
na rua.

O chefe da polícia
de defesa de segurança do estado
sabe como se prende um suspeito
mas quanto ao resto
não sabe nada.

E nem desconfia.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

#31 - GRITO NEGRO, José Craveirinha

Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
E fazes-me tua mina
Patrão!

Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão
Para te servir eternamente como força motriz
Mas eternamente não
Patrão!

Eu sou carvão!
E tenho que arder, sim
E queimar tudo com a força da minha combustão.

Eu sou carvão!
Tenho que arder na exploração
Arder até às cinzas da maldição
Arder vivo como alcatrão, meu irmão
Até não ser mais tua mina
Patrão!

Eu sou carvão!
Tenho que arder
E queimar tudo com o fogo da minha combustão.

Sim!
Eu serei o teu carvão
Patrão!